17.12.18

Paciente do Martagão é primeira criança da Bahia a tratar leucemia com arsênico

Paciente do Martagão é primeira criança da Bahia a tratar leucemia com arsênico

Um menino de 13 anos é a primeira criança da Bahia a tratar uma leucemia sem quimioterapia convencional. O guia terapêutico está sendo realizado no Hospital Martagão Gesteira, que participa do desenvolvimento do protocolo latino-americano para o tratamento de Leucemia Promielocítica Aguda com o ácido arsênico.

Alexsandro Gonçalves, de Eunápolis, começou a receber o arsênico em setembro e atualmente está no segundo ciclo do tratamento, que deve demorar cerca de oito meses. “Ele usou a substância durante 30 dias seguidos, voltou para casa e depois retornou a Salvador para mais uma etapa. Se não estivesse fazendo este tratamento, ele teria todas as reações comuns à químio, como imunossupressão, diminuição da taxa dos leucócitos, sangramentos, precisaria de plaquetas. A resposta está sendo maravilhosa”, conta Dra Juliana Costa, onco-hematopediatra do Martagão Gesteira. Em outubro e novembro, ela apresentou o guia terapêutico em dois eventos científicos, o Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular e o Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica. Leia matéria sobre o tema aqui.

O garoto chegou ao Martagão Gesteira apresentando sangramentos e plaquetas muito baixas. “Hoje, ele está muito bem, tanto que ninguém acredita que tem leucemia”, conta Maria de Fátima Gonçalves, mãe de Alexsandro. “Eu me sinto a mãe mais sortuda do mundo”, acrescenta a trabalhadora rural.

O Hospital Martagão Gesteira é o maior centro de Oncologia Pediátrica da Bahia e é um dos representantes do país na pesquisa, que conta com integrantes de Argentina, México, Peru, Chile e todos os países da América Central. Há um ano, o grupo de especialistas começou a desenvolver o protocolo, com apoio do St. Jude Children’s Research Hospital, dos Estados Unidos.

“No Martagão, recebemos dois casos de Leucemia Promielocítica Aguda por ano. E isso é muito comparado a outros centros. A ideia é criar um protocolo de tratamento específico para as crianças latino-americanas e assim chegar à uma maior taxa de cura com uma intensidade de tratamento menor possível. Como é uma doença genética, ela tem um perfil diferente na Europa e nos Estados Unidos”, destaca a médica. “Precisamos conhecer nossa população, assim conseguiremos melhorar nossos índices”, acrescenta ela.

A pesquisa científica é um dos caminhos para a consolidação de novos tratamentos e drogas. Embora seja inovador no tratamento da Leucemia Promielocítica Aguda, o arsênico é uma substância química conhecida há mais de dois mil anos e já usada, inclusive, como veneno.

“Hoje a indústria farmacêutica cobra caro pela droga. Com verbas oriundas do SUS para o tratamento da leucemia, não conseguimos pagar por essa medicação. Por isso, é muito importante a criação de fundos e o financiamento para tratamentos de ponta. Este é um caso que conseguimos viabilizar o tratamento com recursos oriundos de doação”, enfatiza Dra. Juliana Costa.

O Hospital Martagão Gesteira é uma instituição filantrópica, que há 53 anos conta com a ajuda da sociedade baiana para cuidar de cerca de 80 mil crianças e adolescentes por ano. Saiba como colaborar: https://martagaogesteira.com.br/doe-agora/

Referência em Oncologia Pediátrica
Por mês, o Hospital Martagão Gesteira atende cerca de 150 pacientes em tratamento oncológico. Anualmente, a unidade registra aproximadamente 120 novos casos da doença e recebe cerca de 1.500 pacientes em acompanhamento. Todo o tratamento é gratuito.

Além de profissionais especializados em oncologia pediátrica, o serviço do Martagão Gesteira conta com endocrinologista, ortopedista, neuropediatra, endocrinopediatra, neurocirurgião, cirurgião pediátrico e médico do transplante de medula. Prezando por um tratamento cada vez mais humanizado, os pacientes são acompanhados por equipe multidisciplinar composta de enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais, psicólogos e pedagoga.

“Outra grande vantagem do Martagão é poder contar com o suporte de diversas áreas de um grande hospital, como UTI, bioimagem, laboratório, centro cirúrgico, fisioterapia, fonoaudiologia e voluntariado”, revela Luciana Nunes, coordenadora do setor.